Wednesday, September 4, 2013

Publicação

Esta semana um artigo meu, traduzido e revisado em português, foi publicado na Revista de História da UEG. Segue o link da revista Edison Carneiro e Ruth Landes: etnografia e matriarcado nos candomblés da Bahia (1938-9)

Este mês estou completando minhas disciplinas do programa de Mestrado, Pós-Afro no Centro de Estudos Afro-Orientais, UFBA. A partir de agora estarei na University of Michigan para começar meu doutorado no programa de História e Antropologia. Volto à Bahia em Maio 2014 para finalizar minhas pesquisas e qualificar no mestrado.

Este ano e 3 três meses foram incríveis, eu expandi meu conhecimento na área de estudos afro-brasileiros e meu conforto aqui na Bahia. Meu relacionamento com aqui apenas começou, e vai desenvolver muito ainda.

Abraço,
Jamie Lee Andreson
ajamie@umich.edu




Monday, January 21, 2013

A Lavagem do Bonfim


A semana passada eu participei na grande festa popular, a Lavagem do Bonfim na cidade baixa. Este ano eu fui direito para a igreja porque eu queria ver a cerimônia em vez da grande festa e caminhada. Eu quis ver o aspecto mais religioso da festa.



A manhã foi linda. Teve vários crentes e membros da comunidade cantando e rezando nas portas da igreja. Pessoas estavam circulando aos portões para colocar suas fitas do senhor do bonfim e fazer um pedido pelo ano novo. Eu também consegui colocar mina fita e olhar por cima das portões pra ver as baianas fazendo a lavagem.

Mas o que eu vi foi muito menos uma lavagem do que uma confraternização. Realmente as escadas e o chão em frente da igreja estavam bem sujos. Eu fiquei um pouco confundida do que o que estava acontecendo. Isso foi mais ou menos meio dia, e possivelmente a lavagem verdadeira aconteceu mais cedo. Em minha opinião, o evento nem era sincretismo. Tudo foi dirigido pelas baianas, como a Ruth Landes explicou sobre 1939. Sim, aconteceu na igreja, mas eu vi mais banhos de pipoca e folhas do que qualquer traço da igreja católica. 



Aí começou a chover, e eu adorei. Eu sempre fico com calor demais no sol da Bahia, então eu fiquei e dancei na chuva. Acho que eu senti deus na chuva, e senti uma tranquilidade divina que raramente eu encontro. Foi lindo, e eu agradeço o Senhor do Bonfim por isso.

Portanto, depois da chuva e a lavagem, a festa mudou. Acho que os crentes foram pra casa pra almoçar e descansar e os bêbados vieram para aproveitar a festa na rua. A multidão aumentou e aumentou até o ponto que eu senti que não tinha saída.

Meu problema foi que eu vim só com mais uma amiga minha. Meus outros amigos não podiam vir comigo, e meu namorado estava trabalhando. Eu estava com só uma amiga, e todo o mundo assumiu que a gente estava solteira. Todo minuto homens estavam me chamando e até me pegando. Eu quis nada disso.

Sou loira, sou branca, sou estrangeira. Eu moro na Bahia e acho que eu conheço algumas coisas da cultura baiana. Depois de dois anos, não me sinto mais como uma turista, me sinto como uma moradora. Sei que nunca vou ser baiana, nem me pretendo, mas gosto de interagir e participar nas coisas baianas.



Na Lavagem do Bonfim isso foi impossível. Muitos homens estavam chamando coisas incompreensíveis num Inglês terrível. Eles estavam apontando para meus olhos, dizendo coisas como "oi minha boneca", "quero roubar seus olhos", "que gringa gostosa", e coisas assim por horas e horas. Eu fique tão chateada que eu quis ir embora, mas como eu falei, não tinha uma saída.

Finalmente minha amiga concordou de começar a ir embora, só que o povo ficou apertados por quilômetros. Eu estava com uma mochilinha, e eu estava a guardando e tentando de não dar uma surra nos homens que estavam pegando meus braços, minha cintura, até meu cabelo.

Pra mim, como uma mulher jovem que cresceu no contexto pós-feminista nos Estados Unidos, este tratamento é completamente inaceitável. Eu não convidei esses toques e chamadas, mas não podia me defender nem pará-los.

Com tempo eu entendi o problema. Aqui como uma mulher jovem eu não posso sair nestas festas sem acompanhamento de um homem. Eu odeio este fato, e eu acho que é incrível que este tratamento é normal nestas situações. 

Como é que as mulheres baianas aceitam isso? Pelo menos a maioria das mulheres nesta festa aceitavam. Elas sabem como responder e tratar a situação bem melhor do que eu. Mas ao mesmo tempo sei que algumas delas ficam com estes homens depois destas chamadas e pegadas. É a cultura de carnaval? É a cultura da Bahia? É a cultura do Brasil? Ainda não sei, mas eu aceito ajuda em entender melhor.

Finalmente eu consegui sair da festa e pegar meu ônibus pra casa sem muito assalto. Mas com tudo eu fiquei muito perturbada e violada. Me deu vontade de voltar a meu país de origem, porque me senti tão estrangeira neste momento—estrangeira em chamar atenção, e estrangeira em não saber como lidar a situação. Quando me senti sem esperança, quando me senti que alguém iria me pegar, me roubar, ou me estuprar, eu rezei ao Deus. Eu sabia que ele estava lá e que ele iria me proteger. Eu fiquei com essa segurança no final da Festa do Senhor do Bonfim. 


Thursday, December 6, 2012

Racismo e Homofobia


Geralmente discursos sobre o Brasil hoje em dia são progressivos, positivos, falando sobre direitos humanos e cada vez mais oportunidades pelo povo. Recentemente, tenho visto dois exemplos de meus amigos que completamente contraem este discurso utópico.

Primeiro, um amigo meu fez um vídeo defendendo as cotas universitárias no Brasil que agora tem mais de 85,000 vistos. O vídeo é polémico, sim, e fala muitas coisas honestas sobre as desigualdades raciais no Brasil que nem sempre são faladas. Portanto, o que mas choque são os comentários ao vídeo que são extremamente racistas. As respostas ao vídeo mostram o verdadeiro racismo que existe entre jovens hoje em dia no Brasil, e provam as colocações do vídeo. Agora o vídeo tem mais de 6,000 comentários, a maioria são racistas até o ponto de achar que ainda estamos no século IX. Chamam a atriz de "macaca" e "vagabunda" várias vezes e sugerem que os estudantes negros são preguiçosos e não têm capacidade de estudar no nível universitário como os brancos da classe média que entram a universidade por causa de "mérito puro". 




O segundo exemplo. Meu amigo, Bruno, foi assaltado e batido quando estava voltando duma festa o Domingo passado à noite em Camaçari. Ele é jovem, um ator, e também foi "A Rainha da Parada" na Parada LGBT no Rio Grande do Sul em 2011. 


Bruno confirmou que os ataques foram por causa de sua orientação sexual. Os assaltantes gritaram palavrões e comentários ofensivos enquanto o roubaram, bateram, e deixaram na rua sangrando. O polícia passou várias vezes sem ajudar Bruno, e só ligou para SAMU sem o levar ao hospital. Bruno perdeu 3 litros de sangue, e foi demitido do hospital o próximo dia, 3 de Dezembro.




Falei com Bruno hoje e ele confirmou que está recuperando e que este ataque de homofobia está sendo cada vez mais divulgado. Grupos e redes sociais estão mobilizando contra a violência e o homofobia, mas a realidade é que aqui no Brasil, ainda acontecem muito. 

Sinto muito para meu amigo, eu quero que estes dois exemplo mostrem para muitas pessoas a necessidade de mudar a extrema violência e intolerância de outros que são diferentes do que você.